Uma árvore morta transforma-se em arte e, mais que isso, num alerta, pelas mãos do pescador Servílio Viana (ao lado), morador de Arembepe (BA). Aos poucos conquistando notoriedade em razão da beleza de suas peças, esculpidas a partir de madeira abandonada, árvores desmatadas e “coqueiros depredados pela ação irracional do homem”, esse sujeito simples dissemina preciosas lições de vida.“A sociedade foi moldada a acumular riquezas e este é o maior inimigo da natureza - o Capitalismo. Por isso, ainda sobrevivo da pesca”, coloca o pescador/artista. Isso não significa, porém, que ele viva alienado de possibilidades tecnológicas como a internet. Servílio, conhecido como Swell, mantém um bem atualizado blog - arteservilioviana.blogspot.com -, por meio do qual divulga suas obras e, muitas vezes, desabafos. Na entrevista a AmbienteBrasil que se segue, ele comenta essa trajetória. AmbienteBrasil – Como começou esse seu trabalho de fazer arte com materiais obtidos da natureza? Servílio Viana - Começei a esculpir num dia de dificuldade. Ao passear pela praia, estava preocupado em alimentar minha família, rezava muito e pedi a Deus uma luz. Logo, achei uma madeira que o mar jogava na areia, parecia um rosto de homem; chegando em casa dei-lhe alguns retoques e fui para a Pousada Fazenda, de um amigo, onde um casal francês estava hospedado. Eles adoraram a escultura e decidiram comprá-la, por um bom preço. Assim, começei as criações de esculturas em madeiras abandonadas, árvores desmatadas, coqueiros queimados. AmbienteBrasil – Qual a mensagem que você quer transmitir por intermédio de suas obras? Servílio - A Arte de dar vida ao que está morto. O homem, como os outros animais, deve cuidar de seu habitat ou morrerá com ele. AmbienteBrasil – Hoje, você consegue viver de sua arte? Servílio - Viver da arte inspira a cultura e a sociedade, ao longo de sua formação, foi moldada a acumular riquezas. Este é o maior inimigo da natureza - o Capitalismo. Por isso, ainda sobrevivo da pesca. AmbienteBrasil – O poder público – Estado da Bahia e/ou prefeituras – incentiva seu trabalho de alguma maneira? Servílio - Até então, participei de um evento da Secretaria de Cultura de Camaçari - À Caminho da Ternura - e estou aguardando resposta para a exposição que está prevista para março na Cidade do Saber - Camaçari. Paralelamente, a Millennium Inorganic Chemmicals S.A., indústria privada, me apóia na doação de materiais e na criação do meu book. AmbienteBrasil – De que formas a comunidade de Arembepe te ajuda? Servílio - Algumas pessoas ajudam no trabalho, doando materiais. Alguns comerciantes, como o Restaurante Mar Aberto e o Mercado Fonseca, também participam na doação de materiais. A pessoa que mais tem me apoiado é minha cunhada, Myriãn Tavares (na foto ao lado, pintando o “grande tótem da Gameleira” na Praça de Arembepe). Todos participam na conscientização ambiental e preservação da escultura que fiz na Grande Gameleira (Pé de Irôco). Localizada na Praça das Amendoeiras em Arembepe, é considerada sagrada para os devotos do Candomblé. Acredita-se que os negros preferiam o suicídio ao viverem escravizados; assim, davam uma volta ao redor da grande Gameleira oferecendo suas almas para que fossem libertadas pelos orixás. Essa Gameleira foi tema de uma matéria da revista Vilas Magazine, onde eu fiz um apelo que repito: a outra Gameleira irá morrer, a reurbanização (da praça) a sufocou; peço às autoridades que a libertem do concreto que mata suas raízes. Amo minhas artes, mas não quero ter que repeti-las em outras árvores. AmbienteBrasil – Qual a sua avaliação sobre a relação dos seres humanos hoje com o meio ambiente?Servílio - A nossa construção destrói a natureza. É sinal de que algo está errado. Se não corrigirmos a tempo, a natureza fará a seu modo. Na foto abaixo, o Grande Tótem na Majestosa Gameleira, pé de Irôco que morreu depois da "reurbanização" da Praça das Amendoeiras, em Arembepe.
Mônica Pinto / AmbienteBrasil
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