No sábado passado, AmbienteBrasil registrou no clipping de notícias uma reportagem do portal G1 sob o título Construções que separam matas de rios podem explicar sumiço de sapos.
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“Não importa a quantidade de mata nativa preservada em uma propriedade, sempre que alguém constrói alguma coisa - seja uma casa, um pasto ou uma cidade - na beira de um rio, afeta diretamente a sobrevivência dos sapos, que vivem tanto na terra quanto na água.
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Esse tipo de divisão do ambiente onde vive uma espécie foi batizada pelos pesquisadores de “desconexão de habitat” e pode explicar algo investigado pela ciência há muito tempo:
por que os anfíbios estão desaparecendo”, coloca a matéria.¨
¨E lembra: “Pelo Código Florestal Brasileiro, uma faixa em torno dos rios precisa ser preservada - o quanto depende do tamanho do rio.
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Mas não são todos que cumprem a legislação”.
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O G1 ouviu o pesquisador Carlos Roberto Fonseca, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul, para quem a desconexão de habitat é prática comum. “Mesmo o proprietário que cumpre a lei e deixa uma porcentagem da mata preservada em suas terras, em muitos casos, ele deixa a floresta em áreas isoladas, como topos de morros. E vai colocar sua casa, o pasto, tudo em volta de um riozinho”, afirmou ele ao portal.
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O ambientalista Germano Woehl Jr., coordenador de Projetos do Instituto Rã-Bugio para Conservação da Biodiversidade, ONG dedicada à proteção dos anfíbios com sede em Jaraguá do Sul (SC), concorda apenas em parte com essa tese.
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“A destruição dos banhados, pela drenagem ou inundação para formação de lagoas de criação de peixes predadores de girinos, é outro problema que, de longe, afeta muito mais os anfíbios do que separação das lagoas de áreas preservadas, como o informado na matéria”, disse ele a AmbienteBrasil.
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"Portanto, o maior inimigo dos anfíbios pode estar na água.
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Quando não está infestada de predadores introduzidos pelo homem, geralmente está contaminada por todo o tipo de poluente, esgoto doméstico e industrial, agrotóxicos, resíduos de mineração etc”, completa.
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Para Germano, o que o trabalho dos pesquisadores revelou, “de forma muito convincente”, foi uma das várias maneiras dos anfíbios morrerem após um desmatamento.
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Mas, segundo analisa, a desconexão de habitat não pode ser considerada como "uma das principais causas de sumiço dos anfíbios" em todo o mundo.
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“A principal causa continua sendo o desmatamento, pelo menos nos domínios da Mata Atlântica”.
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Casos isolados que provocam o declínio de população existem por toda parte, e das mais diversas modalidades, mas – coloca Germano - estão longe de serem considerados "entre as principais causas".
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Como exemplo, ele cita um fenômeno verificado no litoral norte de Santa Catarina, onde, de forma inusitada, ocorreu uma explosão na população de uma espécie nativa de camarão de água doce em algumas lagoas, que devorava todas as desovas dos anfíbios, de qualquer espécie.
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“Acho que é desnecessário desenvolver uma tese acadêmica para deduzir que se desmatar ou queimar uma mata, os sapos e outros bichos e plantas que ali vivem desaparecem”, diz.
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“No caso dos anfíbios e outros animais lentos, a morte é instantânea.
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Já para outros bichos, como as aves e mamíferos, a morte será mais lenta - e o sofrimento, maior -, uma vez que não encontram mais comida, mesmo migrando para outra área preservada, se existir”.
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Para o ambientalista, interromper o processo de destruição deveria ser a prioridade dos que compreendem a importância de salvar o que resta da Mata Atlântica – e de toda sua biodiversidade.
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“Neste sentido, minha esposa e eu decidimos fazer alguma coisa. Há mais de dez anos compramos áreas preservadas, combatemos o desmatamento, a destruição dos banhados e começamos a conscientizar a sociedade, por meio de projetos de educação ambiental nas escolas”.
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Mônica Pinto / AmbienteBrasil
2 comentários:
É lastimável que um dos coordenadores de um instituto que visa defender os sapos critique de forma grosseira um estudo sobre conservação de anfíbios publicado na revista Science. O que apontamos em nosso trabalho é que o desmatamento tem um efeito direto nas comunidades de anfíbios assim como um efeito indireto através da fragmentação das florestas e desconexão de habitats. E o efeito negativo da desconexão é o mais forte. Ao contrário do que o “ambientalista” Germano Woehl Jr pensa, sabemos muito bem das ameaças dos agrotóxicos e das espécies exóticas afetando os anfíbios. O que dizemos é que os anfíbios florestais só saem da floresta quando não há sítios reprodutivos adequados dentro das matas para sustentar populações de anfíbios, ou seja, quando há desconexão de habitats. Neste caso, os sapos são obrigados a sair das matas e reproduzir em riachos, açudes ou banhados severamente impactados pela ação humana (e. g. corpos d´água contaminados com poluentes químicos, espécies exóticas, ambientes assoreados, etc...). Dizemos ainda que este padrão de desconexão entre as matas e os cursos d´água é muito comum em regiões onde se registra a maioria dos declínios de anfíbios no mundo, como o leste Australiano, America Central e os Andes. Mas o trecho mais lastimável do depoimento de Woehl diz respeito às pesquisas conservacionistas desenvolvidas no Brasil. “Germano Woehl diz ... - Acho que é desnecessário desenvolver uma tese acadêmica para deduzir que se desmatar ou queimar uma mata, os sapos e outros bichos e plantas que ali vivem desaparecem...”. Para mim, compreender o processo que leva os anfíbios às extinções no mundo inteiro é a melhor maneira de propor alternativas eficientes e viáveis para que os tomadores de decisões possam reverter a crise atual da biodiversidade. Nosso trabalho passou pela avaliação dos maiores herpetólogos do mundo e, graças a Deus, repercutiu positivamente no mundo inteiro. Para finalizar, admiro muito a iniciativa do Instituto Rã-bugio que visa preservar os sapos. Venho acompanhando o trabalho há algum tempo e acho muito importante. Mas aconselho o prof. Woehl a ler nosso artigo antes de tirar conclusões precipitadas baseadas na matéria publicada em um jornal (G1).
Carlos Guilherme Becker
O trabalho está excelente. Talvez eu não seja a pessoa mais apropriada para discutir esse tema, por ainda não ter uma "bagagem" necessaria para argumentar as críticas. Mas, acho que a intenção do Woehl foi dizer que embora a desconexão de hábitats seja um importante fator negativamente correlacionado com o declinio de anfíbios, ele talvez não seja o ponto final da história; que resolvendo o problema das margens dos rios, etc, se conseguirá frear a crise que vêm passando os anuros. Como estudante de graduação e interessado na herpetologia, eu vi o artigo como uma contribuição relevante ao conhecimento da problematica que envolve o declinio, mas apenas o ínicio de uma caminhada que deve ser contínua e estimulada, seja por boas ou "más" críticas.
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